sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O ASSASSINATO DA MULHER MENTAL - REVISTA ZINGU



O Assassinato da Mulher Mental
Direção: Joel Caetano
Brasil, 2008.

Por
Gabriel Carneiro

O Assassinato da Mulher Mental é um grande avanço em termos técnicos dentro do cinema da Recurso Zero Produções. Joel, para fazer um filme em tom bem mais sério e sóbrio que os anteriores, caprichou nos efeitos especiais (inserindo imagens em fundo chroma), deu um ar de grande produção, com o jornal falso e suas imagens estáticas construídas no photoshop, e montou tudo de forma ágil. Misturando aspectos do cinema noir, histórias em quadrinhos e super-heróis, e a tragédia, O Assassinato da Mulher Mental é seu filme mais bem resolvido.

O curta-metragem narra a história da ascensão e queda dos Aventureiros, formado pelos super-heróis Hiper Homem, Mulher Mental e Bruma. Quando Mulher Mental é encontrada morta, Bruma procura Hiper Homem para investigar o caso. Há tempos separados, após Hiper Homem ter perdido seus poderes e ter se tornado devoto do álcool e do tabaco, através de
flash-backs e do noticiário, a história é reconstituída.









Mais uma vez as atuações nos filmes da Recurso Zero se destacam.

É impressionante ver como, com o tempo, aperfeiçoaram o desempenho, empostando melhor as vozes, construindo os gestos e sabendo quando se deve ser mais caricato. O que víamos emMinha Esposa é um Zumbi e em Junho Sangrentoera a paródia, tudo muito exagerado, muito falseado. Em O Assassinato da Mulher Mental vemos que, na verdade, é o talento em saber dosar a performance.


A evolução de Joel Caetano e seus comparsas ao longo desses anos é uma prova cabal de que qualidade se constrói com esforço e boa vontade. Mesmo que haja situações que dêem um tom amador ao vídeo, não há como assistir a
O Assassinato da Mulher Mental e não pensar no filme como uma produção profissional, feita com recursos que realizadores do mainstream possuem. Isso vem também do intuito de Joel, sempre investindo na carreira, através de melhores recursos tecnológicos e do aprendizado de novas técnicas. Percebe-se que o gosto em fazer filmes é o que move as pessoas envolvidas – e que sim fazem um produto artístico com viés comercial: filme para ser visto no cinema. A questão de se utilizar de clichês do gênero, em nenhum momento, invalida o que se é feito, pois é propositadamente farsesco.

A farsa aqui não é com o intuito de parodiar, mas é próprio do modelo narrativo e do gênero. Filmes de super-heróis, com estética do policial
noir detetivesco, fogem completamente do estilo brasileiro de fazer cinema, que pouco envereda para a fantasia. A farsa, então, é intrínseca, pois é feita com características típicas do Brasil. Nisso, pega personagens-tipos dentro do filão de super-heróis: o Superman vira Hiper Homem, com direito a uniforme em verde e amarelo; a Mulher Maravilha vira a Mulher Mental e Batman vira Bruma, que também herda muito das características do detetive dos filmes policiais americanos dos anos 40. Ao transformar a questão de gêneros em algo único no Brasil (a elaboração da história e sua construção, com direito à originalidade dentro do clichê), Joel relê a antropofagia de Oswald de Andrade – aqui, diferente dos ‘marginais’, por fazer um produto essencialmente comercial, sem as mesmas pretensões de contestação.

A diversão proporcionada pela Recurso Zero Produções é certeira. Dela, há muito o que se esperar, assim como de sua equipe individualmente. Além da criatividade em criar histórias, o aprimoramento técnico e o seu cuidado estético só levam a crer que há um futuro no cinema de entretenimento de qualidade no Brasil – e sem leis de incentivo, quem sabe.

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