domingo, 25 de abril de 2010

CRÍTICA DE INÁCIO ARAÚJO (CRÍTICO DE CINEMA DA FOLHA DE SÃO PAULO) SOBRE O FILME GATO


O cinema pelas bordas (duas notas)

1)

Enquanto o Brasil se apertava atrás de uma vaga para ver "Alice", eu dei uma passada na mostra do Cinema de Bordas, no Itaú Cultural.

Para quem não sabe o que é, corresponde mais ou menos à série Z do passado.

Só que na era do blockbuster, do orçamento alto, o cinema popular fica nas mãos de amadores loucos por produzir imagens, baratíssimas, não raro intratáveis.

No entanto, pensava eu lá, não era eu quem tinha de estar lá, eram os produtores.

Eles teriam a oportunidade de ver "Gato", um curta (22 min.) de Joel Caetano, por exemplo. E depois um filme sobre um maníaco religioso que se põe a sacrificar pessoas.

Bem, "O Gato": é do mesmo autor de "Minha Noiva É um Zumbi".

Faz filmes caseiros, literalmente. A mulher, o sogro e a sogra são atores (a sogra está ótima no filme, aliás).

Não gasta nada. Faz quase tudo na equipe, um pouco que nem o Candeias antigamente.

Seu filme: um gato de três patas exerce um estranho domínio sobre seu dono, levando-o a distorcer radicalmente a relação com a realidade.

Não é tão original assim. Mas algumas imagens são muito boas (como as mãos que saltam da geladeira, por exemplo).

Os diálogos são talvez seu ponto forte. Fazer um gato falar e não ficar ridículo deve ser difícil. Ele conseguiu.

O filme da Bruxa, o segundo, o do maluco religioso, até onde vi é irregular à beça, mas também tem coisas a ver.

É uma nova geração de Bordas, digamos assim.

Não tem mais a ver com aquele bombeiro de Brasília, com o Simião Martiniano, que tinham vontade de fazer, mas eram filmes muito ruins, realmente insuportáveis.

Enquanto eu estava lá pensava que quem tinha de ver esses filmes baratíssimos, de gênero, irregulares, cheios de imaginação, eram os produtores.

O que fazem os produtores?

Sentam numa mesa e esperam cair uma penca de roteiros na mesa. Mandam para um concurso e, se pintar um prêmio, começam a levantar dinheiro para a produção.

Em geral, toda a energia criativa concentra-se nessa parte.

Acho que o Joel Caetano é um desses caras que poderiam crescer muito trabalhando com um produtor criativo (e econômico), que não jogue dinheiro pelo ralo.

A diferença entre essa produção e a produção normal atual, me parece, é que ela existe para existir, pelo prazer de existir.

Não se dá importância. Apenas quer imitar aquelas que são suas referências. No caso de Joel Caetano, horror dos anos 80 e quadrinhos, sobretudo.

FONTE: http://inacio-a.blog.uol.com.br/


quinta-feira, 22 de abril de 2010

CINEMA DE BORDAS - JOEL CAETANO, FELIPE GUERRA E PETTER BAIERSTORF NO JORNAL DA GAZETA

Cinema de BORDAS NA ÉPOCA ONLINE

Cinema de Bordas reúne diretores de filmes B

Mostra do Itaú Cultural exibe filmes de baixo orçamento que flertam com terror, ficção científica, seres fantásticos e não têm pretensões comerciais
por Patrícia Agusti

Uma legião formada por uma bruxa, um chupa-cabra, um médico legista psicopata, um assassino munido de serra elétrica e outros personagens fantásticos invade o Itaú Cultural entre os dias 21 e 25 de abril, na segunda edição do Cinema de Bordas. Como o próprio nome indica, a mostra engloba produções de baixo orçamento. Segundo o curador Gelson Santana existem espalhados pelo Brasil filmes em VHS, HD e Super-8 que estão à margem da produção oficial. “São envolvidos gêneros desde o faroeste até o terror e não há preocupação em ser algo esmerado, correto, em ter um roteiro que seja coerente. Existe um fazer muito mais por prazer do que o interesse comercial. Tem todo um lado lúdico”, completa.

Engana-se, contudo, quem espera ver filmagens sem qualidade ou com efeitos especiais toscos. Apesar da aura trash, grande parte das produções é beneficiada pela alta tecnologia de câmeras digitais e computadores, além da criatividade de seus idealizadores. Gelson Santana chama de “terceira geração do cinema de bordas” os diretores que voltam suas produções para a veiculação pela internet.Chupa-cabras, de Rodrigo Aragão, está na programação da mostra e é um belo exemplo disso: elaborado com um orçamento de R$ 300, conta a saga de um homem para fugir de uma criatura bizarra que suga o sangue de suas vítimas. “Foi feito para não dar trabalho, só tem um personagem, não tem diálogos. Filmamos em três dias e o montei num computador emprestado”, explica Aragão. Mesmo feito de maneira despretensiosa, o curta ganhou alguns prêmios e virou sucesso no Youtube.

Nascido em uma aldeia de pescadores em Guarapari, no Espírito Santo, ele roda seus filmes em meio a uma rica paisagem e conta com a ajuda de amigos, responsáveis por integrar o elenco e operar equipamentos. Sua pretensão é passar para a tela “as muitas historias, lendas e o imaginário muito rico (da região). Quero resgatar tudo isso de uma maneira fantasiosa”. No momento, o diretor prepara-se para transformar o curta Chupa-Cabras em um longa: A Noite dos Chupa-Cabras. “A minha ideia é fazer uma trilogia. O primeiro foi Mangue Negro (2008), o segundo será esse, situado nas montanhas. Já o terceiro será (rodado) no litoral”, esclarece.

Além de apresentar ao público os filmes, os festivais também permitem a troca de experiências e favores entre diretores. O segundo longa de Aragão terá a participação de Joel Caetano, diretor que fará a vez de ator na produção. “Estamos presentes nos projetos uns dos outros”, diz Caetano que participa do Cinema de Bordas com Gato, primeiro lugar no júri popular do Cinefantasy de 2009. No enredo do curta – que custou cerca de R$ 800 – um homem deprimido e rejeitado pela família compra um bicho de estimação, passando a ter uma interação estranha com ele e seus vizinhos. “É a história de um homem, um gato e muito sangue”, resume o diretor.

Caetano administra a Recurso Zero Produções e já rodou dois pequenos sucessos: Minha Esposa é um Zumbi e Junho Sangrento, ambos vencedores pelo júri popular do Festival de Cinema Fantástico de Ilha Comprida em 2006 e 2007. Para ele, no terror é possível fazer efeitos de qualidade com pouco dinheiro: “Peter Jackson, Spielberg, entre outros começaram com filmes trash. É uma porta de entrada para aprender e experimentar”. Sempre com um orçamento apertado, Caetano resolveu tomar uma atitude inusitada: “Eu e minha mulher (Mariana Zani, sócia da produtora) decidimos convidar meus sogros, que faziam teatro nos anos 70, para fazer os curtas com a gente”.

Apesar da maioria dos diretores do Cinema de Bordas fazer uso da tecnologia digital, há quem ande na contramão dessa moda. Marcos Bertoni, criador do curtaDoutor Ekard, monta suas produções reciclando trechos de filmes antigos - até 1985, gravava em Super-8. Após 15 anos, fundou o que chama de Movimento Dogma 2002, uma maneira de reutilizar material e recriar roteiros a custo zero. “Basta ter um pouco de fita adesiva transparente para fazer as emendas, que são físicas. Não tem nada feito no computador”. Para dublar as novas falas no lugar das antigas, ele utiliza “um microfone de plástico simplório” de um projetor sonoro Super-8, película que conta com uma banda magnética onde o som é impresso “como se fosse uma fita de gravador”.




O roteiro que será exibido na mostra é sobre um médico que monta uma palestra envolvendo parapsicologia, mas na verdade quer apenas obter vantagens pessoais. Segundo Bertoni sua produção é “totalmente fora de moda. A única coisa digital é a cópia que vai passar no dia (de exibição), que foi feita no laboratório. Custou caríssimos R$ 150!”.

Confira a programação completa aqui

Cinema de Bordas. Itaú Cultural: Av. Paulista, 149, metrô Brigadeiro, 2168-1776. De quarta (21/4) a domingo (25/4). Grátis (entradas distribuídas com meia hora de antecedência).

FONTE: http://revistaepocasp.globo.com/Revista/Epoca/SP/0,,EMI134803-16296,00.html

CINEMA DE BORDAS G1

MOSTRA TRÁS "CHUPA CABRAS" E O "MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA PARA SÃO PAULO

Começa nesta quarta (21) em São Paulo a segunda edição da mostra Cinema de Bordas, que reúne filmes de baixíssimo orçamento, feitos por cineastas amadores espalhados por todo o país. Entre os filmes selecionados para o festival, neste ano, estão o curta “Chupa-cabras”, de Rodrigo Aragão, que exibiu no ano passado o zumbi-capixaba “Mangue negro”, além de “Gato”, de Joel Caetano, e o "recut" da comédia “Entrei em pânico ao saber o que vocês fizeram na sexta-feira 13 do verão passado”, do gaúcho Felipe Guerra.


Em sentido horário, a partir do alto à esquerda: 'Morgue story - sangue, baiacu e quadrinhos', 'Cyberdoom', 'Gato' e 'A bruxa do cemitério 2', filmes em cartaz na mostra Cinema de Bordas em SP (Foto: Divulgação)


Simião Martiniano, o cineasta-camelô de Jaboatão dos Guararapes, veterano entre os cineastas de filmes caseiros, traz ao festival “O show variado”, paródia de longas de artes marciais. Liz Marins, filha do mestre do terror brasileiro José Mojica, o Zé do Caixão, exibe o curta-metragem “Aparências”. A cineasta também participa de debate no evento.


Com ingressos gratuitos, a mostra Cinema de Bordas acontece até o próximo dia 25 de abril no Itaú Cultural, em São Paulo.


Confira abaixo as sinopses* de alguns dos destaques da mostra:


“Gato” Joel Caetano (2009, 23 min.), São Paulo (SP) Um conto de terror e suspense sobre um homem, um gato e muito sangue. Quarta (21), às 16h Sexta (23), às 20h30


“A bruxa do cemitério 2” Semi Salomão, 2009, 83 min, Apucarana/PR “Grande Urso’’ o índio protetor das matas adverte para nunca pisarem em solo amaldiçoado. Dante, o primogênito de uma família, sofre de distúrbios mentais e psicológicos e é manipulado por uma bruxa que, no passado, foi morta injustamente para atrair pessoas ao vale onde seriam vítimas de forças sobrenaturais. Quarta (21), às 16h Sexta (23), às 20h30


“Chupa-cabras” Rodrigo Aragão (2005, 12 min.), Guarapari (ES) Uma vítima de sequestro se vê perdida em uma floresta e logo descobre que não está sozinha. O Chupa-cabras está à espreita. Quarta (21), às 18h30 Sábado (24), às 16h


“Morgue story, sangue, baiacu e quadrinhos” Paulo Biscaia Filho (2009, 78 min.), Curitiba (PR) Ana Argento, quadrinista de sucesso frustrada em seus relacionamentos, se encontra com dois homens solitários de vida curiosa. Tom é um vendedor de seguros de vida que sofre de catalepsia. Daniel Torres é um médico legista sociopata que tem um método de crime peculiar: envenena suas vítimas com uma poção feita à base de baiacu que induz a catalepsia. A vítima é considerada morta e enviada para o necrotério, mas ao acordar se depara com o legista esperando para estuprá-la e sufocá-la até a morte. Os planos começam a dar errado quando Tom também acorda no necrotério. Quarta (21), às 18h30 Sábado (24), às 16h


“Doutor Ekard” Marcos Bertoni (2002, 18 min.), São Paulo (SP) Palestra sobre parapsicologia, hipnose e auto-ajuda é ministrada com fins duvidosos. Quinta (22), às 18h Sábado (24), às 18h


“Coronel Cabelinho vs Grajaú Soldiaz” Pepa Filmes (2001, 80 min.), Rio de Janeiro (RJ) O filho de um diplomata é assassinado, a imprensa cobra resultados e a polícia está acuada. A única solução é trazer de volta para a cidade o policial mais hardcore dos tempos da ditadura militar, Coronel Cabelinho. Ele e seus amigos vão empregar toda a força necessária para mandar para a vala mais funda o responsável por mais esse escândalo nacional. Mas os calejados policiais não vão conseguir isso facilmente, pois os assassinos são da Grajaú Soldiaz, a gangue de rua mais sinistra do RJ. Quinta (22), às 18h Sábado (24), às 18h


“Aparências” Liz Marins (2006, 8 min.), São Paulo (SP) A história de uma bela garota loura e preconceituosa, que, pela crença em uma série de errôneos julgamentos impostos pela sociedade, passa por sinistras experiências à noite ao voltar da escola. Quinta (22), às 20h30 Domingo (25), às 16h


“Entrei em pânico ao saber o que vocês fizeram na sexta-feira 13 do verão passado [Recut]” Felipe M. Guerra (2001-2009, 90 min.), Carlos Barbosa (RS) Sátira/homenagem aos filmes de horror adolescentes dos anos 1990 que resgatavam um subgênero do horror muito popular nos anos 1980: o slasher movie, caracterizado pela presença de psicopatas do sexo masculino que matam adolescentes em série. Quinta (22), às 20h30 Domingo (25), às 16h


“O massacre da espada elétrica” Merielli Campi, Lucio Gaigher, Rodolfo Arrivabene, Gerson Castilho, (2008, 15 min.), Guarapari(ES) Muhamed Aki Haul é um garoto palestino gordo e desajeitado que sofre bullying na escola. No Brasil, onde mora e estuda, ele é isolado de todas as formas por seus colegas e se transforma em objeto de piada e chacota entre eles. O "Pequeno Mamute" resolve então se vingar das humilhações diárias que vem sofrendo. Para tanto, recebe ajuda do seu guru, "Mestre Coruja", na forma de uma espada elétrica chamada Cheeewbacca. Sexta (23), às 18h Domingo (25), às 18h


“O show variado” Simião Martiniano (2008, 40 min.), Jaboatão dos Guararapes(PE) Uma série de esquetes que envolvem comédia e artes marciais. Um doutor, o empregado e o delegado maluco são alguns dos personagens do filme. Sexta (23), às 18h Domingo (25), às 18h


“Cyberdoom” Igor Simões Alonso (2009, 40min.), São Paulo(SP) São Paulo, 2054. O planeta passa por escassez de água, o sol se tornou uma ameaça e o mundo está repleto de novas doenças. Apesar de desenvolvida tecnologicamente, a humanidade não consegue combater certas doenças e a destruição da natureza chegou a um ponto crítico. A cidade foi dividida em bairros fechados, com a desculpa do risco de doenças e para controlar melhor a população. Uma gangue conhecida como Os Coletores busca um antídoto contra os diversos vírus, a Bioágua. Que é vendida a preços exorbitantes apenas para a alta elite por um monopólio de empresas chamado de “Conglomerado”, que vive explorando a miséria biológica por todo país. Uma guerra se anuncia nas ruas decadentes da cidade enquanto a resistência busca o maior de todos os fins: a sobrevivência. Sexta (23), às 18h Domingo (25), às 18h

* Os textos das sinopses foram cedidos pela mostra Cinema de Bordas.