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sexta-feira, 8 de abril de 2011

CINEMA DE BORDAS III - PROGRAMAÇÃO 2011


A Noite do Chupacabras e A Ida de Quem Não Foi são alguns dos títulos apresentados. Confirma a programação completa!

O Itaú Cultural apresenta a terceira edição da mostra Cinema de Bordas, que reúne filmes produzidos de forma independente, com baixo orçamento e alguns de estética "trash". São trabalhos que se concentram em narrativas de ficção e fazem proveito de histórias e imagens de outros produtos culturais, como filmes antigos, HQs e seriados. Também é característica dessas produções a adaptação do conteúdo segundo o modo de vida e o imaginário popular das comunidades envolvidas no processo criativo.

Com curadoria de Bernadette Lyra, Gelson Santana e Laura Cánepa, a seleção de filmes foi pautada em três momentos em que a produção foi descentralizada, permitindo a realização dessas obras: nos 1970, com o advento das câmeras VHS; durante os anos 1980, na época de ouro dos fanzines; e atualmente, com a popularização da internet, que permite maior contato entre os produtores e destes com o público interessado.

As exibições, que acontecem de 19 a 24 de abril, são seguidas de bate-papos com alguns realizadores.

Produzindo com Recurso Zero
O instituto também apresenta, entre 20 e 22 de abril, a oficina Produzindo com Recurso Zero, que aborda as diversas etapas envolvidas no processo de construção desse tipo de filme, como o roteiro, a pré-produção, a captação e a edição. Joel Caetano, da Recurso Zero Produções, mostra como é possível criar curtas, médias e até longas-metragens com baixo orçamento e ter um resultado de qualidade.

terça 19 de abril
20h


Mostra
quarta 20 a domingo 24 de abril
quarta quinta sexta 18h e 20h
sábado domingo 16h 18h


Oficina
quarta 20 a sexta 22 de abril 14h às 18h


Entrada franca

Itaú Cultural - Sala Itaú Cultural
| Avenida Paulista 149 - Paraíso - São Paulo SP (próximo à estação Brigadeiro do metrô)
informações 11 2168 1777 |
atendimento@itaucultural.org.br

Confira a programação detalhada, sinopses e biografias:

terça 19 de abril
20h
abertura, exibição de uma seleção especial de filmes e palestra com os curadores

Bernadette Lyra
é doutora em cinema pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado na Université René Descartes, Paris V, Sorbonne. É sócia fundadora e participa do conselho científico da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine). Atua ainda como professora titular do mestrado em comunicação na Universidade Anhembi Morumbi (UAM/SP).

Gelson Santana é doutor em ciências da comunicação pela USP e graduado em comunicação social/cinema pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua como professor titular do mestrado em comunicação na UAM/SP.

Laura Cánepa é jornalista, doutora em multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestre em ciências da comunicação pela ECA/USP. Atualmente, é professora do mestrado em comunicação na UAM e membro do conselho deliberativo da Socine. Desde 2010, mantém o blog Medo de Quê? (horrorbrasileiro.blogspot.com), com dados de sua pesquisa sobre o horror no cinema brasileiro.


quarta
20 de abril
18h
programa 1
20h
programa 2 e bate-papo com Seu Manoelzinho, mediado por Bernadette Lyra

Seu Manoelzinho (Mantenópolis, ES) é famoso em sua comunidade por ter realizado mais de uma dezena de filmes inspirados em faroestes, comédias e ficções científicas, todos estrelados por seus amigos e parentes.

quinta
21 de abril
18h
programa 3
20h
programa 4 e bate-papo com Petter Beistorff e Felipe Guerra, mediado por Lúcio Reis

Felipe Guerra
(Carlos Barbosa, RS) é jornalista e crítico de cinema. Desde 1995, realiza, com seus amigos e familiares, filmes inspirados nas comédias adolescentes e no cinema de horror internacional.

Lúcio Reis é mestre e doutor em multimeios pela Unicamp e pesquisador na área de cinema de horror e exploitation.

Petter Baiestorf (Palmitos, SC) é um dos mais conhecidos cineastas independentes brasileiros. Desde 1991, mantém a empresa Canibal Mabuse, que realiza e distribui curtas e longas-metragens em vídeo, recheados de fantasia, violência e sexo.

sexta
22 de abril
18h
programa 5
20h
programa 6 e bate-papo com Pedro Daldegan, mediado por Laura Cánepa

Pedro Daldegan
(Santa Rita do Passa Quatro, SP) é engenheiro e administrador. Nos anos 1980, realizou uma série de filmes em VHS que são exemplos de experimentação com os gêneros narrativos clássicos, sobretudo o horror e o mistério.

sábado
23 de abril
16h
programa 2
18h programa 3

domingo 24 de abril
16h
programa 4
18h
programa 5


Oficina
quarta 20 a sexta 22 de abril
14h às 18h
Produzindo com Recurso Zero

inscrições
16 vagas
até sexta
15 de abril
telefone
11 2168 1779

Esta oficina ministrada pela Recurso Zero Produções tem o objetivo de mostrar na prática como curtas, médias e até longas-metragens podem ser feitos com poucos recursos, mas com qualidade e muita criatividade. A ideia, o roteiro, a pré-produção, a produção, a captação e a edição serão as etapas abordadas com base nas experiências da produtora paulistana. Os participantes realizarão um curta-metragem.

A Recurso Zero Produções foi formada, em 2001, pelos então estudantes de rádio e TV Joel Caetano e Mariana Zani. Já realizou mais de 12 curtas, entre eles, Minha Esposa É um Zumbi (2006) e Junho Sangrento (2007), vencedores, pelo júri popular, da Mostra de Cinema Fantástico de Ilha Comprida. Em 2010, o curta Gato ganhou os prêmios de Melhor Curta Latino-Americano, no Montevideo Fantástico (Uruguai), e Melhor Direção, no Espantomania (Brasil).


Sinopse dos programas

Seleção especial (35 min)

A Noite do Chupacabras
Rodrigo Aragão, 10 min, Guarapari (ES), 2011
Uma prévia em primeira mão do longa-metragem que vai ser lançado no segundo semestre de 2011.

Estranha
Joel Caetano, 12 min, São Paulo (SP), 2011
Fotografia, câmera, efeitos especiais, maquiagem de efeitos e storyboard: Joel Caetano. Elenco: Mariana Zani, Kika Oliveira, Roberta Rodrigues, Tiago F. Galvão e Walderrama dos Santos.
Duas mulheres em uma estranha e sensual trama de amor, vingança, violência e psicodelia.

A Paixão dos Mortos
Coffin Souza, 12 min, Palmitos (SC), 2011
Elenco: Gisele Ferran.
Zumboa é atacada por nojentos e lascivos mortos-vivos saídos de um antigo cemitério tropical. Esses ataques a transformam em uma criatura letal. Uma morta que parece muito viva.

Mindinho
Bruno Pinaud, 1 min, Rio de Janeiro (RJ), 2001
Você não será a mesma pessoa.


Programa 1 (98 min)

Museu de Cera
Pedro Daldegan, 7 min, Santa Rita do Passa Quatro (SP), 1988
Elenco: Guilherme de Rossi, Ricardo Nori Gaudio, Salvio Meirelles de Souza Pinto, Alessandra Gaudio e Daniela de Rossi.
Acordado por um estranho pesadelo, adolescente decide invadir a casa que ele e o amigo encontraram durante o dia. A residência se revela um perigoso museu de cera.

Roquí - O Boxeador da Amazônia
Renato Dib, 21 min, Manaus (AM), 2009
Fotografia: George Anderson. Elenco: Aldenir Coty, Márcio Ribeiro, George Anderson, Camila Moraes, Manoel Freitas, Bernardo, Totonio, Chinaider e Raunei.
A filha de Roquí é sequestrada por bandidos que exigem a sua participação em um campeonato de boxe para libertá-la.

A Ida de Quem Não Foi
Jussan Silva e Silva, 51 min, Muqui (ES), 2009
Elenco: Wander Polati, José Venâncio Martins e Jussan Silva e Silva.
A história de três irmãs que não fazem mais sucesso. Charlote, a mais velha, fica cega de desgosto. Seu sonho é morrer aos pés da Torre Eiffel. Suas duas irmãs, Gorete e Fenda, resolvem então inventar uma viagem de navio "fictícia" a Paris.

Os Clubbers Também Comem
Lufe Steffen, 10 min, São Paulo (SP), 1999
Elenco: Clessius Renato, José Mário, Kiko Araújo e Rodolfo César.
Para não passar mal na pista de dança, clubber com hipoglicemia carrega um sanduíche no bolso da calça. De uma hora para outra, comer dançando vira uma atitude absolutamente fashion.

O Sacrifício - Noite Maldita do Vinil 2007
Rubens Mello, 9 min, São Paulo (SP), 2007
Elenco: Rubens Mello, Matheus Pacheco, Hanne Berl, Duna e Paulo Ramires.
A encenação do sacrifício de uma donzela.


Programa 2 (62 min)

O Galo da Madrugada
Sandra Ribeiro, 5 min, Gravatá (PE), 1998
Elenco: Itacy Henriquez.
Uma mulher tenta matar um galo que não a deixa dormir.

A Gripe do Frango
Manoel Loreno (Seu Manoelzinho), 57 min, Mantenópolis (ES), 2008
Uma lei determina o extermínio de todos os frangos devido a uma doença. Um amigo de Seu Manoelzinho é transformado em frango e ele precisa descobrir qual das aves é seu amigo para salvá-lo da morte.


Programa 3 (93 min)

BBZ
Filipe Ferreira, 20 min, Porto Alegre (RS), 2007
Produção: Paulo Carvalho, Filipe Ferreira e Édnei Pedroso. Roteiro: Édnei Pedroso e Filipe Ferreira. Fotografia: Luciano Paim. Efeitos especiais e maquiagem: Ricardo Ghiorzi. Elenco: Cláudio Benevenga, Luciana Simões, Édnei Pedroso, Cláudia Borba, Filipe Ferreira, Henrique Zandoná, Ricardo Ghiorzi, Filipe König, Paulo Carvalho, Glauco Valim, Giordana Sfreddo e Alex Panato.
Nesta brincadeira com o programa televisivo
BBB, a casa onde os "bravos guerreiros" estão encerrados é vizinha de uma colônia de zumbis.

A Novilha Rebelde (The Sound of Mu)
Elisa Queiroz e Erly Vieira Jr., 18 min, Vitória (ES), 2005
Roteiro: David Caetano, Elisa Queiroz e Erly Vieira Jr. Elenco: Elisa Queiroz, David Caetano, Elba Calmon, Fran de Oliveira, Vitor Jubini, Lívia Bassi, Erly Vieira Jr., Wesley Barbosa, Lara Vaz, Luiza Ricão, Antonio Almeida, Thiago Borges e Wyller Villaças.
Novilha chega com suas ideias coloridas para cuidar dos filhos cinzentos do Seu Zebu. A jovialidade de Novilha entra em choque com a austeridade de Maria Margô, a governanta.

Adventure Island
Bruno Garcia, 55 min, Rio de Janeiro (RJ), 2005
Elenco: Ely Jr., Camilla Martins, Rodrigo Ribeiro, Rodrigo Lima, Thiago Cerqueira, Bruno Garcia, Veveto Bill, Cinthia Basílio, Luiz Fernando Reis, Paulo Ballado, Antonio Bastos, Thiago Medeiros e Victor Vasconcelos, Emanuel da Cruz.
Traficantes de animais fazem de tudo para se apossar de um raro pássaro amarelo.


Programa 4 (44 min)

Extrema Unção
Felipe Guerra, 19 min, Carlos Barbosa (RS), 2010
Elenco: Rodrigo M. Guerra, Oldina do Monte e Leandro Facchini.
O fantasma de uma velha senhora fica preso dentro de uma casa porque ela não recebeu a extrema-unção ao morrer.

O Doce Avanço da Faca
Petter Baiestorf, 25 min, Palmitos (SC), 2010
Elenco: Gisele Ferran, Coffin Souza, Elio Copini, Jorge Timm, Minuano, Loures Jahnke, Airton Bratz e Cleiton Lunardi.
Garota aprende a usar facões afiados para vingar a morte de seu amado.


Programa 5 (97 min)

O Lobisomem da Pedra Branca
José Denísio Pereira, 30 min, Pedralva (MG), 1982-1983
Produção: Flávio Abreu Paiva, José Arnaldo de Macedo, José Denísio Pereira e Sebastião Donizetti Monti Souza. Elenco: Luiz "Dudu" Augusto, Ana Cristina Osório, J. Marcos Bustamante, Audrei Macedo, Rogério Abreu, Vanda Souza, Davi B. Braga, Sandra Souza, Isaias de Carvalho, André Braga, Raimundo A., Jandira M. Goulart, Zaga Carneiro, Heloisa Di-Lorenzo, A. M. Bustamante, Miriam Goulart, Heitor Rocha, Nelma Bustamante, Betinho Goulart, J. D. Nunes, Dolores R. Silva, Écio Souza, Elizabeth Siqueira, J. D´Alencar Braga, J. Clementino, Tarcísio Braga, Dilma B. Braga, Paulo M. Souza, Irani Souza, Danilo R. Lopes, Denise Souza, Paulo Rosa Faria, Thais Bustamante, Renato Piazza, Benedito Piazza, Luiz F. R. Macedo, Haroldo B. Abreu, Guilherme Bustamante, Eliane R. Bustamante.
Na década de 1930, o médico da cidade de Pedra Branca, após desilusão amorosa, cria soro que o transforma em terrível lobisomem. A fera passa a aterrorizar os moradores e os políticos locais, às vésperas das eleições municipais.

A Maleta
Rodrigo Brandão, 16 min, Santos Dumont (MG), 2010
Roteiro: Gabriel Fonseca, Rodrigo Brandão e Weiller Vilela. Elenco: Weiller Vilela, Wollas Marçal, Gabriel Fonseca e Juliano Gomes.
A Maleta. Pessoas matam e morrem por ela. O que de fato ela carrega? Um homem irá protegê-la, mesmo que para isso tenha de deixar um rastro de sangue por onde tentarem impedi-lo de cumprir sua missão.

O Tormento de Mathias
Sandro Debiazzi, 51 min, São Paulo (SP), 1992-2011
Elenco: Felipe Guerra, Sandro Debiazzi, Joel Caetano, Augusto Servano, Marcos Felipe, Lara Magalhães, Sônia Coronato, Otto Schlemmer, Pedro Mileo, Patrícia Barbosa, Gilmar Carvalho, João D?Olyveira, Paulo de Tarso, Tesla Puci, Sandra Modesto, Pedro Vajman, Fabiana Vajman, Rodrigo Fernandes, Claudio Nasci, Marcos Leone, Ricardo Rodrigues, Francisco de Assis, Mario Candido, Albertina Souza e Bernadette Lyra.
Interno há 40 anos do manicômio municipal, o ex-pianista de igreja Mathias Gottlieb vislumbra a possibilidade de mais uma fuga com o aparecimento de um ingênuo jornalista interessado em escrever sua história. Vingança, sangue e horror são lições amargas para quem experimenta cruzar seu caminho.

[Todos os filmes são recomendados para maiores de
14 anos, exceto O Doce Avanço da Faca (programa 4), indicado para maiores de 18 anos.]

[Todos os bate-papos são livres, exceto o do dia 21, com Felipe Guerra e Petter Baiestorf, indicado para maiores de
18 anos.]

FONTE: Itaú Cultural / programação / Cinema de Bordas

domingo, 25 de abril de 2010

CRÍTICA DE INÁCIO ARAÚJO (CRÍTICO DE CINEMA DA FOLHA DE SÃO PAULO) SOBRE O FILME GATO


O cinema pelas bordas (duas notas)

1)

Enquanto o Brasil se apertava atrás de uma vaga para ver "Alice", eu dei uma passada na mostra do Cinema de Bordas, no Itaú Cultural.

Para quem não sabe o que é, corresponde mais ou menos à série Z do passado.

Só que na era do blockbuster, do orçamento alto, o cinema popular fica nas mãos de amadores loucos por produzir imagens, baratíssimas, não raro intratáveis.

No entanto, pensava eu lá, não era eu quem tinha de estar lá, eram os produtores.

Eles teriam a oportunidade de ver "Gato", um curta (22 min.) de Joel Caetano, por exemplo. E depois um filme sobre um maníaco religioso que se põe a sacrificar pessoas.

Bem, "O Gato": é do mesmo autor de "Minha Noiva É um Zumbi".

Faz filmes caseiros, literalmente. A mulher, o sogro e a sogra são atores (a sogra está ótima no filme, aliás).

Não gasta nada. Faz quase tudo na equipe, um pouco que nem o Candeias antigamente.

Seu filme: um gato de três patas exerce um estranho domínio sobre seu dono, levando-o a distorcer radicalmente a relação com a realidade.

Não é tão original assim. Mas algumas imagens são muito boas (como as mãos que saltam da geladeira, por exemplo).

Os diálogos são talvez seu ponto forte. Fazer um gato falar e não ficar ridículo deve ser difícil. Ele conseguiu.

O filme da Bruxa, o segundo, o do maluco religioso, até onde vi é irregular à beça, mas também tem coisas a ver.

É uma nova geração de Bordas, digamos assim.

Não tem mais a ver com aquele bombeiro de Brasília, com o Simião Martiniano, que tinham vontade de fazer, mas eram filmes muito ruins, realmente insuportáveis.

Enquanto eu estava lá pensava que quem tinha de ver esses filmes baratíssimos, de gênero, irregulares, cheios de imaginação, eram os produtores.

O que fazem os produtores?

Sentam numa mesa e esperam cair uma penca de roteiros na mesa. Mandam para um concurso e, se pintar um prêmio, começam a levantar dinheiro para a produção.

Em geral, toda a energia criativa concentra-se nessa parte.

Acho que o Joel Caetano é um desses caras que poderiam crescer muito trabalhando com um produtor criativo (e econômico), que não jogue dinheiro pelo ralo.

A diferença entre essa produção e a produção normal atual, me parece, é que ela existe para existir, pelo prazer de existir.

Não se dá importância. Apenas quer imitar aquelas que são suas referências. No caso de Joel Caetano, horror dos anos 80 e quadrinhos, sobretudo.

FONTE: http://inacio-a.blog.uol.com.br/


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cinema de BORDAS NA ÉPOCA ONLINE

Cinema de Bordas reúne diretores de filmes B

Mostra do Itaú Cultural exibe filmes de baixo orçamento que flertam com terror, ficção científica, seres fantásticos e não têm pretensões comerciais
por Patrícia Agusti

Uma legião formada por uma bruxa, um chupa-cabra, um médico legista psicopata, um assassino munido de serra elétrica e outros personagens fantásticos invade o Itaú Cultural entre os dias 21 e 25 de abril, na segunda edição do Cinema de Bordas. Como o próprio nome indica, a mostra engloba produções de baixo orçamento. Segundo o curador Gelson Santana existem espalhados pelo Brasil filmes em VHS, HD e Super-8 que estão à margem da produção oficial. “São envolvidos gêneros desde o faroeste até o terror e não há preocupação em ser algo esmerado, correto, em ter um roteiro que seja coerente. Existe um fazer muito mais por prazer do que o interesse comercial. Tem todo um lado lúdico”, completa.

Engana-se, contudo, quem espera ver filmagens sem qualidade ou com efeitos especiais toscos. Apesar da aura trash, grande parte das produções é beneficiada pela alta tecnologia de câmeras digitais e computadores, além da criatividade de seus idealizadores. Gelson Santana chama de “terceira geração do cinema de bordas” os diretores que voltam suas produções para a veiculação pela internet.Chupa-cabras, de Rodrigo Aragão, está na programação da mostra e é um belo exemplo disso: elaborado com um orçamento de R$ 300, conta a saga de um homem para fugir de uma criatura bizarra que suga o sangue de suas vítimas. “Foi feito para não dar trabalho, só tem um personagem, não tem diálogos. Filmamos em três dias e o montei num computador emprestado”, explica Aragão. Mesmo feito de maneira despretensiosa, o curta ganhou alguns prêmios e virou sucesso no Youtube.

Nascido em uma aldeia de pescadores em Guarapari, no Espírito Santo, ele roda seus filmes em meio a uma rica paisagem e conta com a ajuda de amigos, responsáveis por integrar o elenco e operar equipamentos. Sua pretensão é passar para a tela “as muitas historias, lendas e o imaginário muito rico (da região). Quero resgatar tudo isso de uma maneira fantasiosa”. No momento, o diretor prepara-se para transformar o curta Chupa-Cabras em um longa: A Noite dos Chupa-Cabras. “A minha ideia é fazer uma trilogia. O primeiro foi Mangue Negro (2008), o segundo será esse, situado nas montanhas. Já o terceiro será (rodado) no litoral”, esclarece.

Além de apresentar ao público os filmes, os festivais também permitem a troca de experiências e favores entre diretores. O segundo longa de Aragão terá a participação de Joel Caetano, diretor que fará a vez de ator na produção. “Estamos presentes nos projetos uns dos outros”, diz Caetano que participa do Cinema de Bordas com Gato, primeiro lugar no júri popular do Cinefantasy de 2009. No enredo do curta – que custou cerca de R$ 800 – um homem deprimido e rejeitado pela família compra um bicho de estimação, passando a ter uma interação estranha com ele e seus vizinhos. “É a história de um homem, um gato e muito sangue”, resume o diretor.

Caetano administra a Recurso Zero Produções e já rodou dois pequenos sucessos: Minha Esposa é um Zumbi e Junho Sangrento, ambos vencedores pelo júri popular do Festival de Cinema Fantástico de Ilha Comprida em 2006 e 2007. Para ele, no terror é possível fazer efeitos de qualidade com pouco dinheiro: “Peter Jackson, Spielberg, entre outros começaram com filmes trash. É uma porta de entrada para aprender e experimentar”. Sempre com um orçamento apertado, Caetano resolveu tomar uma atitude inusitada: “Eu e minha mulher (Mariana Zani, sócia da produtora) decidimos convidar meus sogros, que faziam teatro nos anos 70, para fazer os curtas com a gente”.

Apesar da maioria dos diretores do Cinema de Bordas fazer uso da tecnologia digital, há quem ande na contramão dessa moda. Marcos Bertoni, criador do curtaDoutor Ekard, monta suas produções reciclando trechos de filmes antigos - até 1985, gravava em Super-8. Após 15 anos, fundou o que chama de Movimento Dogma 2002, uma maneira de reutilizar material e recriar roteiros a custo zero. “Basta ter um pouco de fita adesiva transparente para fazer as emendas, que são físicas. Não tem nada feito no computador”. Para dublar as novas falas no lugar das antigas, ele utiliza “um microfone de plástico simplório” de um projetor sonoro Super-8, película que conta com uma banda magnética onde o som é impresso “como se fosse uma fita de gravador”.




O roteiro que será exibido na mostra é sobre um médico que monta uma palestra envolvendo parapsicologia, mas na verdade quer apenas obter vantagens pessoais. Segundo Bertoni sua produção é “totalmente fora de moda. A única coisa digital é a cópia que vai passar no dia (de exibição), que foi feita no laboratório. Custou caríssimos R$ 150!”.

Confira a programação completa aqui

Cinema de Bordas. Itaú Cultural: Av. Paulista, 149, metrô Brigadeiro, 2168-1776. De quarta (21/4) a domingo (25/4). Grátis (entradas distribuídas com meia hora de antecedência).

FONTE: http://revistaepocasp.globo.com/Revista/Epoca/SP/0,,EMI134803-16296,00.html

CINEMA DE BORDAS G1

MOSTRA TRÁS "CHUPA CABRAS" E O "MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA PARA SÃO PAULO

Começa nesta quarta (21) em São Paulo a segunda edição da mostra Cinema de Bordas, que reúne filmes de baixíssimo orçamento, feitos por cineastas amadores espalhados por todo o país. Entre os filmes selecionados para o festival, neste ano, estão o curta “Chupa-cabras”, de Rodrigo Aragão, que exibiu no ano passado o zumbi-capixaba “Mangue negro”, além de “Gato”, de Joel Caetano, e o "recut" da comédia “Entrei em pânico ao saber o que vocês fizeram na sexta-feira 13 do verão passado”, do gaúcho Felipe Guerra.


Em sentido horário, a partir do alto à esquerda: 'Morgue story - sangue, baiacu e quadrinhos', 'Cyberdoom', 'Gato' e 'A bruxa do cemitério 2', filmes em cartaz na mostra Cinema de Bordas em SP (Foto: Divulgação)


Simião Martiniano, o cineasta-camelô de Jaboatão dos Guararapes, veterano entre os cineastas de filmes caseiros, traz ao festival “O show variado”, paródia de longas de artes marciais. Liz Marins, filha do mestre do terror brasileiro José Mojica, o Zé do Caixão, exibe o curta-metragem “Aparências”. A cineasta também participa de debate no evento.


Com ingressos gratuitos, a mostra Cinema de Bordas acontece até o próximo dia 25 de abril no Itaú Cultural, em São Paulo.


Confira abaixo as sinopses* de alguns dos destaques da mostra:


“Gato” Joel Caetano (2009, 23 min.), São Paulo (SP) Um conto de terror e suspense sobre um homem, um gato e muito sangue. Quarta (21), às 16h Sexta (23), às 20h30


“A bruxa do cemitério 2” Semi Salomão, 2009, 83 min, Apucarana/PR “Grande Urso’’ o índio protetor das matas adverte para nunca pisarem em solo amaldiçoado. Dante, o primogênito de uma família, sofre de distúrbios mentais e psicológicos e é manipulado por uma bruxa que, no passado, foi morta injustamente para atrair pessoas ao vale onde seriam vítimas de forças sobrenaturais. Quarta (21), às 16h Sexta (23), às 20h30


“Chupa-cabras” Rodrigo Aragão (2005, 12 min.), Guarapari (ES) Uma vítima de sequestro se vê perdida em uma floresta e logo descobre que não está sozinha. O Chupa-cabras está à espreita. Quarta (21), às 18h30 Sábado (24), às 16h


“Morgue story, sangue, baiacu e quadrinhos” Paulo Biscaia Filho (2009, 78 min.), Curitiba (PR) Ana Argento, quadrinista de sucesso frustrada em seus relacionamentos, se encontra com dois homens solitários de vida curiosa. Tom é um vendedor de seguros de vida que sofre de catalepsia. Daniel Torres é um médico legista sociopata que tem um método de crime peculiar: envenena suas vítimas com uma poção feita à base de baiacu que induz a catalepsia. A vítima é considerada morta e enviada para o necrotério, mas ao acordar se depara com o legista esperando para estuprá-la e sufocá-la até a morte. Os planos começam a dar errado quando Tom também acorda no necrotério. Quarta (21), às 18h30 Sábado (24), às 16h


“Doutor Ekard” Marcos Bertoni (2002, 18 min.), São Paulo (SP) Palestra sobre parapsicologia, hipnose e auto-ajuda é ministrada com fins duvidosos. Quinta (22), às 18h Sábado (24), às 18h


“Coronel Cabelinho vs Grajaú Soldiaz” Pepa Filmes (2001, 80 min.), Rio de Janeiro (RJ) O filho de um diplomata é assassinado, a imprensa cobra resultados e a polícia está acuada. A única solução é trazer de volta para a cidade o policial mais hardcore dos tempos da ditadura militar, Coronel Cabelinho. Ele e seus amigos vão empregar toda a força necessária para mandar para a vala mais funda o responsável por mais esse escândalo nacional. Mas os calejados policiais não vão conseguir isso facilmente, pois os assassinos são da Grajaú Soldiaz, a gangue de rua mais sinistra do RJ. Quinta (22), às 18h Sábado (24), às 18h


“Aparências” Liz Marins (2006, 8 min.), São Paulo (SP) A história de uma bela garota loura e preconceituosa, que, pela crença em uma série de errôneos julgamentos impostos pela sociedade, passa por sinistras experiências à noite ao voltar da escola. Quinta (22), às 20h30 Domingo (25), às 16h


“Entrei em pânico ao saber o que vocês fizeram na sexta-feira 13 do verão passado [Recut]” Felipe M. Guerra (2001-2009, 90 min.), Carlos Barbosa (RS) Sátira/homenagem aos filmes de horror adolescentes dos anos 1990 que resgatavam um subgênero do horror muito popular nos anos 1980: o slasher movie, caracterizado pela presença de psicopatas do sexo masculino que matam adolescentes em série. Quinta (22), às 20h30 Domingo (25), às 16h


“O massacre da espada elétrica” Merielli Campi, Lucio Gaigher, Rodolfo Arrivabene, Gerson Castilho, (2008, 15 min.), Guarapari(ES) Muhamed Aki Haul é um garoto palestino gordo e desajeitado que sofre bullying na escola. No Brasil, onde mora e estuda, ele é isolado de todas as formas por seus colegas e se transforma em objeto de piada e chacota entre eles. O "Pequeno Mamute" resolve então se vingar das humilhações diárias que vem sofrendo. Para tanto, recebe ajuda do seu guru, "Mestre Coruja", na forma de uma espada elétrica chamada Cheeewbacca. Sexta (23), às 18h Domingo (25), às 18h


“O show variado” Simião Martiniano (2008, 40 min.), Jaboatão dos Guararapes(PE) Uma série de esquetes que envolvem comédia e artes marciais. Um doutor, o empregado e o delegado maluco são alguns dos personagens do filme. Sexta (23), às 18h Domingo (25), às 18h


“Cyberdoom” Igor Simões Alonso (2009, 40min.), São Paulo(SP) São Paulo, 2054. O planeta passa por escassez de água, o sol se tornou uma ameaça e o mundo está repleto de novas doenças. Apesar de desenvolvida tecnologicamente, a humanidade não consegue combater certas doenças e a destruição da natureza chegou a um ponto crítico. A cidade foi dividida em bairros fechados, com a desculpa do risco de doenças e para controlar melhor a população. Uma gangue conhecida como Os Coletores busca um antídoto contra os diversos vírus, a Bioágua. Que é vendida a preços exorbitantes apenas para a alta elite por um monopólio de empresas chamado de “Conglomerado”, que vive explorando a miséria biológica por todo país. Uma guerra se anuncia nas ruas decadentes da cidade enquanto a resistência busca o maior de todos os fins: a sobrevivência. Sexta (23), às 18h Domingo (25), às 18h

* Os textos das sinopses foram cedidos pela mostra Cinema de Bordas.