quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cinema de BORDAS NA ÉPOCA ONLINE

Cinema de Bordas reúne diretores de filmes B

Mostra do Itaú Cultural exibe filmes de baixo orçamento que flertam com terror, ficção científica, seres fantásticos e não têm pretensões comerciais
por Patrícia Agusti

Uma legião formada por uma bruxa, um chupa-cabra, um médico legista psicopata, um assassino munido de serra elétrica e outros personagens fantásticos invade o Itaú Cultural entre os dias 21 e 25 de abril, na segunda edição do Cinema de Bordas. Como o próprio nome indica, a mostra engloba produções de baixo orçamento. Segundo o curador Gelson Santana existem espalhados pelo Brasil filmes em VHS, HD e Super-8 que estão à margem da produção oficial. “São envolvidos gêneros desde o faroeste até o terror e não há preocupação em ser algo esmerado, correto, em ter um roteiro que seja coerente. Existe um fazer muito mais por prazer do que o interesse comercial. Tem todo um lado lúdico”, completa.

Engana-se, contudo, quem espera ver filmagens sem qualidade ou com efeitos especiais toscos. Apesar da aura trash, grande parte das produções é beneficiada pela alta tecnologia de câmeras digitais e computadores, além da criatividade de seus idealizadores. Gelson Santana chama de “terceira geração do cinema de bordas” os diretores que voltam suas produções para a veiculação pela internet.Chupa-cabras, de Rodrigo Aragão, está na programação da mostra e é um belo exemplo disso: elaborado com um orçamento de R$ 300, conta a saga de um homem para fugir de uma criatura bizarra que suga o sangue de suas vítimas. “Foi feito para não dar trabalho, só tem um personagem, não tem diálogos. Filmamos em três dias e o montei num computador emprestado”, explica Aragão. Mesmo feito de maneira despretensiosa, o curta ganhou alguns prêmios e virou sucesso no Youtube.

Nascido em uma aldeia de pescadores em Guarapari, no Espírito Santo, ele roda seus filmes em meio a uma rica paisagem e conta com a ajuda de amigos, responsáveis por integrar o elenco e operar equipamentos. Sua pretensão é passar para a tela “as muitas historias, lendas e o imaginário muito rico (da região). Quero resgatar tudo isso de uma maneira fantasiosa”. No momento, o diretor prepara-se para transformar o curta Chupa-Cabras em um longa: A Noite dos Chupa-Cabras. “A minha ideia é fazer uma trilogia. O primeiro foi Mangue Negro (2008), o segundo será esse, situado nas montanhas. Já o terceiro será (rodado) no litoral”, esclarece.

Além de apresentar ao público os filmes, os festivais também permitem a troca de experiências e favores entre diretores. O segundo longa de Aragão terá a participação de Joel Caetano, diretor que fará a vez de ator na produção. “Estamos presentes nos projetos uns dos outros”, diz Caetano que participa do Cinema de Bordas com Gato, primeiro lugar no júri popular do Cinefantasy de 2009. No enredo do curta – que custou cerca de R$ 800 – um homem deprimido e rejeitado pela família compra um bicho de estimação, passando a ter uma interação estranha com ele e seus vizinhos. “É a história de um homem, um gato e muito sangue”, resume o diretor.

Caetano administra a Recurso Zero Produções e já rodou dois pequenos sucessos: Minha Esposa é um Zumbi e Junho Sangrento, ambos vencedores pelo júri popular do Festival de Cinema Fantástico de Ilha Comprida em 2006 e 2007. Para ele, no terror é possível fazer efeitos de qualidade com pouco dinheiro: “Peter Jackson, Spielberg, entre outros começaram com filmes trash. É uma porta de entrada para aprender e experimentar”. Sempre com um orçamento apertado, Caetano resolveu tomar uma atitude inusitada: “Eu e minha mulher (Mariana Zani, sócia da produtora) decidimos convidar meus sogros, que faziam teatro nos anos 70, para fazer os curtas com a gente”.

Apesar da maioria dos diretores do Cinema de Bordas fazer uso da tecnologia digital, há quem ande na contramão dessa moda. Marcos Bertoni, criador do curtaDoutor Ekard, monta suas produções reciclando trechos de filmes antigos - até 1985, gravava em Super-8. Após 15 anos, fundou o que chama de Movimento Dogma 2002, uma maneira de reutilizar material e recriar roteiros a custo zero. “Basta ter um pouco de fita adesiva transparente para fazer as emendas, que são físicas. Não tem nada feito no computador”. Para dublar as novas falas no lugar das antigas, ele utiliza “um microfone de plástico simplório” de um projetor sonoro Super-8, película que conta com uma banda magnética onde o som é impresso “como se fosse uma fita de gravador”.




O roteiro que será exibido na mostra é sobre um médico que monta uma palestra envolvendo parapsicologia, mas na verdade quer apenas obter vantagens pessoais. Segundo Bertoni sua produção é “totalmente fora de moda. A única coisa digital é a cópia que vai passar no dia (de exibição), que foi feita no laboratório. Custou caríssimos R$ 150!”.

Confira a programação completa aqui

Cinema de Bordas. Itaú Cultural: Av. Paulista, 149, metrô Brigadeiro, 2168-1776. De quarta (21/4) a domingo (25/4). Grátis (entradas distribuídas com meia hora de antecedência).

FONTE: http://revistaepocasp.globo.com/Revista/Epoca/SP/0,,EMI134803-16296,00.html

Nenhum comentário: